“E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.” (ACF) (Grifo meu
“Vidit igitur mulier quod bonum esset lignum ad vescendum, et pulchrum oculis, aspectuque delectabile: et tulit de fructu illius, et comedit : deditque viro suo, qui comedit.” (Vulgata Latina) (Grifo meu)
O episódio mais trágico da história da humanidade, foi, sem dúvida, a desobediência de nossos primeiros pais no Jardim do Éden, ao tomarem e comerem daquilo que lhes fora proibido. A partir deste instante, toda a sorte de maldade, malignidade e morte passaram a assolar e dominar aqueles que foram projetados para nunca perecerem.
O pecado tem esta particularidade de nos afastar de nosso Criador e jogar-nos no vale dos desesperançosos. Todavia, através da obediência do Último Adão, Cristo Jesus, o Pai nos franqueou o acesso de retorno a esta comunhão outrora rompida.
Mas afinal, que fruto era este?
Entre os mais conceituados estudiosos rabinos judeus existem algumas teorias com relação a: “Qual seria o tipo de fruto que atraiu e “seduziu” o casal no Jardim do Éden?”
É bom dizer que a interpretação válida é a judaica, dado ao fato de que o Antigo Testamento, originalmente, foi escrito na língua hebraica. Contudo, existe uma tendência (diga-se de passagem, que tornou-se quase que oficializada) de se interpretar o fruto comido por Eva e Adão como sendo a maça.
Isto porque ao se traduzir o texto “(…) tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.(…)” para o Latim (Vulgata Latina) temos: “et tulit de fructu illius, et comedit : deditque viro suo, qui comedit.” associou-se, então o “fructu” ao “pomum = maçã”, a fruta mais conhecida e apreciada no ocidente, notadamente na Europa, onde se estabeleceu a Igreja à partir do século IV d.C. Saiba-se que a maça nem sequer é considerada como possibilidade de ser fruto proibido pelos judeus.
Voltemos à visão judaica. Existem pelo menos cinco suposições (hipóteses) ou interpretações que os estudiosos de Israel fazem com relação ao fruto do pecado.
Os judeus, que são conhecidos como o Povo do Livro, entendem que a Torah (Cinco Primeiros livros do AT) não dizem qual era o fruto proibido, mas que era “o fruto da árvore “הָעֵץ֮” (Há’ez)”.
Um grupo defende a ideia de que, se Deus não deixou revelado qual era o tipo de fruto, é porque Ele não queria que soubéssemos, por outro lado, tem outros pesquisadores que dizem que querem sim saber, e que existem pistas de qual fruto era este no texto.
Trigo
A primeira possibilidade defendida pelos rabinos seria o Trigo. Bem, alguém dirá, trigo não nasce em árvore. Correto, porém a atribuição do fruto proibido a este cereal tem uma relevância mais metafórica (simbólica), pois está associado com o conhecimento no pensamento da Torah.
Originalmente, segundo eles, o trigo nascia em uma árvore, porém, após a consumação do pecado, o cereal teria se tornado uma planta rasteira, ou seja, foi rebaixado.
“Na Torá, o trigo é considerado o esteio da dieta humana, ao passo que a cevada é mencionada como um alimento tipicamente animal (cf. Tehilim 104:5 e I Melachim, 5:8. Veja também o Talmud, Sotah 14a). Assim, o “trigo” representa o esforço para nutrir o que há de distintamente humano em nós, alimentar as Divinas aspirações que são a essência de nossa humanidade.” (pt.Chabad)
Etrog
O fruto poderia ser o “Etrog”; segundo o Instituto Morashá de pesquisa:
“De acordo com nossos sábios, o fruto da árvore descrita no texto em hebraico como sendo a do hadar, a árvore formosa, é o etrog, uma espécie de fruta cítrica doce e aromática. É uma fruta especial, pois a árvore na qual brota tem o mesmo sabor que seu fruto. Por ser uma fruta que se reproduz o ano inteiro, simboliza também a fertilidade. Cheiroso e fértil, o etrog representa o judeu completo, que conhece a Torá e cumpre as mitzvot. O Midrash diz que assim como este fruto tem gosto e fragrância, assim existem no seio de Israel homens que são ao mesmo tempo instruídos e devotos.”
No texto de referência Gn 3.6a é dito que: “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer,”, e o Instituto Morashá diz que: “É uma fruta especial, pois a árvore na qual brota tem o mesmo sabor que seu fruto”.
É bem interessante, porque a casca da árvore do Etrog também é comestível e tem o mesmo sabor da fruta, ou seja, seu sabor é cítrico (azedo) como a fruta.
Não teriam Adão e Eva comido da árvore (cascas) e também do fruto desta cidra? Não sabemos.
Uva
A uva seria a outra candidata a fruto proibido. Não somente pelo fruto em si, mas pelo produto da uva, ou seja, o vinho.
Temos vários exemplos bíblicos dos prazeres e das tragédias que o mal uso desta bebida pode causar.
“Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente. No seu fim morderá como a cobra, e como o basilisco picará.” (Pv 23.31-32)
“O vinho é zombador e a bebida fermentada provoca brigas; não é sábio deixar-se dominar por eles.” (Pv 20:1)
“Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito” (Ef 5:18)
Noz
A Nogueira (árvore da Noz) seria também uma possibilidade ao fruto proibido. Segundo o Rabino Amram Gaon (famoso Presidente da Academia Talmúdica de Sura no sec. IX) este seria o fruto cobiçado por Eva.
“O rabino Amram Gaon identifica o fruto proibido como uma noz e o menciona em uma das bênçãos recitadas durante a cerimônia de casamento em seu sidur (Sidur (do hebraico סידור , no plural sidurim) significa ordem; relaciona-se à palavra sêder que é ampla e cujo significado é ordem, fluxo; o fluxo ordenado das orações judaicas, é o nome, decorrente da sua natureza, dado ao livro de orações utilizado pelos judeus, contendo o conjunto de orações e bençãos diárias.) “. (Culture.dicolife)
Figo
A última provável fruta seria o Figo.
Assim diz Paulo Rosembaum:
“A Torah pode ser compreendida em 4 níveis:
Peshat– Literalmente aquilo que está escrito no texto.
Rémez– Aquilo que pode ser entendido ligando um texto a outro.
Drash– A hermenêutica judaica, alusões ao significado do texto.
Sod– A parte oculta do texto, dantes ensinadas em segredo, hoje conhecida
como Cabalá.
Peshat– o fruto proibido era um FIGO: o versículo diz que “perceberam que estavam nus e confeccionaram cinturões a partir de folhas de figueira”. Como estavam sob uma figueira, de acordo ao texto explícito, o fruto proibido era o figo.” (oqueejudaismo)
Este fruto tem um papel bem interessante na história de Adão e Eva. Após terem comido o Figo e descobrirem que estavam nus, então, desesperadamente, providenciaram uma “solução”, confeccionaram uma roupa feita com folhas da mesma árvore, a figueira: “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais”. (Gn 3:7) (Grifo meu)
Segundo Yanke Tauber:“O figo, a quarta das “Sete Espécies,” é também o fruto da “Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal” – o fruto que Adão e Eva provaram, cometendo assim o primeiro pecado da história. Como explica o ensinamento chassídico, “conhecimento” (daat) implica um envolvimento íntimo com a coisa conhecida (como no versículo “E Adão conheceu sua mulher”). O pecado de Adão derivou de sua recusa em reconciliar-se com a noção de que há certas coisas das quais ele deveria se distanciar; ele desejava conhecer intimamente cada canto do mundo de D’us, tornar-se envolvido com cada uma das criações de D’us. Mesmo o mal, mesmo aquilo que D’us tinha declarado fora do alcance dele.” (pt.Chabad)
Deixe seu comentário